Um dos melhores quadros do humorístico Zorra Total, quando o programa ainda valia a pena, era aquele em que o grande ator Agildo Ribeiro aparecia caracterizado como Paulo Maluf, sempre envolvido em alguma falcatrua e repetindo seu bordão: "não sei de nada".
A brincadeira passou a ser de mau gosto quando saiu das telas e encontrou eco nos discursos do presidente Lula na época em que estava envolvido no escândalo do mensalão. Difícil de acreditar nele. Só que mais difícil ainda é acreditar no mesmo bordão pronunciado agora por Sarney, este homem acima de todos nós e que, portanto, não deve ser julgado como um qualquer por parte da Justiça e da sociedade, como lamentavelmente apontou Lula, fazendo coro com o velho oligarca do Maranhão, quando este discursou da tribuna do Senado em defesa própria, alegando não saber de nada que diga respeito aos atos secretos.
Os defensores desse deplorável brasileiro argumentam, como o fez Gilmar Mendes, presidente do STF, que Sarney foi essencial para o processo de abertura política quando a ditadura miltar finalmente ruiu em 1985, merecendo, pois, um tratamento diferenciado por tantos anos de serviço público prestado ao Brasil. Vai dizer isso para o povo do Maranhão, estado em que Sarney, com a ajuda de sua máfia (família), veste a carapuça de senhor feudal há mais de quatro décadas. Não é à toa que o Maranhão, galinha dos ovos de ouro dos Sarnentos, apresenta a maior parcela de terras concentradas do globo e o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano do País, à frente apenas do Piauí.
A rejeição dos maranhenses ao milionário Sarney e seus aliados foi verificada nas recentes eleições estaduais, nas quais o opositor ao clã explorador Jackson Lago obteve ampla maioria nas urnas, mas foi arrancado do cargo graças ao golpe que recolocou Roseana e os Sarnentos no controle. Nada mais do que a velha prática dos coronéis. Sarney hoje é presidente do Senado pelo estado do Amapá, pois seus conterrâneos do Maranhão de há muito têm ojeriza pelo caquético colonizador.
Se a implantação da democracia dependesse dele, até hoje estaríamos a ver navios. Basta lembrar que a campanha pelas Diretas-Já, heroicamente construída e levada a efeito por Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Dante de Oliveira, Henfil e diversos artistas em conjunto com a sociedade, encontrou em Sarney seu mais ferrenho opositor. Ele apenas, malandramente, nadou a favor da maré, da direita para a esquerda, a fim de não perder a mamata. Largou a Arena, partido da ditadura do qual foi presidente, e entrou como vice na chapa democrática de Tancredo Neves, quando percebeu que a abertura política do País era inevitável.
Agora, envolvido no escândalo dos 663 atos secretos não publicados no Diário do Senado para escamotear casos de nepotismo e criar cargos em larga escala, ele diz não saber de nada. Como assim, se os maiores privilegiados com a transação foram seus familiares e a maioria das assinaturas dos atos são do ex-diretor-geral Agaciel Maia, posto no cargo há 15 anos atrás pelo próprio Sarney? Raposa velha, sabe que na política impera a máxima: "é dando que se recebe". Pois bem, fez tantos favores aos que estão hoje na cena política nacional, que todos sentem constrangimento de lhe pedir a cabeça, até mesmo Lula, apoiado por ele que foi para a presidência da República em 2002.
Nesta semana, leio nos jornais uma notícia informando que o procurador da República Marinus Marsico vai pedir uma investigação dos atos secretos por parte do Tribunal de Contas da União (TCU). Nesse momento, me volta à mente a figura do Paulo Maluf, que pretende enviar ao Congresso um projeto de Lei que prevê punição para os procuradores que denunciarem parlamentares por corrupção. Se depender de Sarney, a matéria está, desde já, aprovada.
quinta-feira, 25 de junho de 2009
Assinar:
Postar comentários (Atom)
5 comentários:
Esses políticos são mesmos uns fanfarrões!!
Texto genial...
Abraço
Mas cadê o post?
Aí, nem surfei no fds...e o amar subindo!
Sim, você tem razão, nada impede o fluxo da História. Até porque esta é sempre maior do que os homens. Mas enquanto houver oprimido e opressor a história dos hondurenhos, bolivianos, brasileiros, maranhenses...permanecerá entrevada no lodo da miséria anti-histórica.
Fico feliz em saber que o senhor está utilizando este espaço. O texto está bem escrito; sinal que tem feito boas leituras. Quanto ao conteúdo, não encontrei diferenças significativas em relação aos comentários corriqueiros. Talvez, eu esteja demasiado acostumado em "pegar leve". No que diz respeito à fiscalização, acredito que seria um ato um tanto esquizofrênico, já que a mídia, a meu ver, é parte integrante do referido poder. Infelizmente, sou só um pessimista (realista).
Postar um comentário