quinta-feira, 25 de junho de 2009

Política nacional: uma zorra total

Um dos melhores quadros do humorístico Zorra Total, quando o programa ainda valia a pena, era aquele em que o grande ator Agildo Ribeiro aparecia caracterizado como Paulo Maluf, sempre envolvido em alguma falcatrua e repetindo seu bordão: "não sei de nada".

A brincadeira passou a ser de mau gosto quando saiu das telas e encontrou eco nos discursos do presidente Lula na época em que estava envolvido no escândalo do mensalão. Difícil de acreditar nele. Só que mais difícil ainda é acreditar no mesmo bordão pronunciado agora por Sarney, este homem acima de todos nós e que, portanto, não deve ser julgado como um qualquer por parte da Justiça e da sociedade, como lamentavelmente apontou Lula, fazendo coro com o velho oligarca do Maranhão, quando este discursou da tribuna do Senado em defesa própria, alegando não saber de nada que diga respeito aos atos secretos.

Os defensores desse deplorável brasileiro argumentam, como o fez Gilmar Mendes, presidente do STF, que Sarney foi essencial para o processo de abertura política quando a ditadura miltar finalmente ruiu em 1985, merecendo, pois, um tratamento diferenciado por tantos anos de serviço público prestado ao Brasil. Vai dizer isso para o povo do Maranhão, estado em que Sarney, com a ajuda de sua máfia (família), veste a carapuça de senhor feudal há mais de quatro décadas. Não é à toa que o Maranhão, galinha dos ovos de ouro dos Sarnentos, apresenta a maior parcela de terras concentradas do globo e o segundo menor Índice de Desenvolvimento Humano do País, à frente apenas do Piauí.

A rejeição dos maranhenses ao milionário Sarney e seus aliados foi verificada nas recentes eleições estaduais, nas quais o opositor ao clã explorador Jackson Lago obteve ampla maioria nas urnas, mas foi arrancado do cargo graças ao golpe que recolocou Roseana e os Sarnentos no controle. Nada mais do que a velha prática dos coronéis. Sarney hoje é presidente do Senado pelo estado do Amapá, pois seus conterrâneos do Maranhão de há muito têm ojeriza pelo caquético colonizador.

Se a implantação da democracia dependesse dele, até hoje estaríamos a ver navios. Basta lembrar que a campanha pelas Diretas-Já, heroicamente construída e levada a efeito por Teotônio Vilela, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Dante de Oliveira, Henfil e diversos artistas em conjunto com a sociedade, encontrou em Sarney seu mais ferrenho opositor. Ele apenas, malandramente, nadou a favor da maré, da direita para a esquerda, a fim de não perder a mamata. Largou a Arena, partido da ditadura do qual foi presidente, e entrou como vice na chapa democrática de Tancredo Neves, quando percebeu que a abertura política do País era inevitável.

Agora, envolvido no escândalo dos 663 atos secretos não publicados no Diário do Senado para escamotear casos de nepotismo e criar cargos em larga escala, ele diz não saber de nada. Como assim, se os maiores privilegiados com a transação foram seus familiares e a maioria das assinaturas dos atos são do ex-diretor-geral Agaciel Maia, posto no cargo há 15 anos atrás pelo próprio Sarney? Raposa velha, sabe que na política impera a máxima: "é dando que se recebe". Pois bem, fez tantos favores aos que estão hoje na cena política nacional, que todos sentem constrangimento de lhe pedir a cabeça, até mesmo Lula, apoiado por ele que foi para a presidência da República em 2002.

Nesta semana, leio nos jornais uma notícia informando que o procurador da República Marinus Marsico vai pedir uma investigação dos atos secretos por parte do Tribunal de Contas da União (TCU). Nesse momento, me volta à mente a figura do Paulo Maluf, que pretende enviar ao Congresso um projeto de Lei que prevê punição para os procuradores que denunciarem parlamentares por corrupção. Se depender de Sarney, a matéria está, desde já, aprovada.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Considerações sobre o rádio no Brasil *

Alguns fatos importantes marcaram o ano de 1922, como a realização da Semana de Arte Moderna, a criação do Partido Comunista do Brasil, o levante dos 18 do Forte e o centenário de independência do Brasil. Para a comemoração deste acontecimento, no dia 7 de setembro, foi organizada a Exposição Internacional, em cuja abertura o então Presidente Epitácio Pessoa teve seu discurso reproduzido por um sistema de radiotelefones em forma de cornetas. Era a primeira transmissão radiofônica no País.

A demonstração foi organizada pela Western Electric, a Westinghouse e a Rio de Janeiro e São Paulo Telephone Company, por meio de uma pequena estação de 500W, instalada no alto do Corcovado. Além do discurso de Epitácio Pessoa, houve a execução da canção “O aventureiro”, da ópera “O guarani”, de Carlos Gomes. Os sons ouvidos na Exposição também foram captados no Palácio Monroe, no Palácio do Catete, nos Ministérios, em Niterói e na Prefeitura de Petrópolis, devido a 80 receptores que vieram dos EUA e foram distribuídos para políticos e personalidades da época.

O veículo reinou absoluto entre os brasileiros durante a primeira metade do século passado, atingindo o auge nas décadas de 30 e 40, até perder espaço para a televissão a partir dos anos 50. No rádio, as transmissões de jogos de futebol e corridas de cavalos, os programas de calouros, as radionovelas e as notícias das guerras arrebanhavam audiência por todo o País.

Na narração esportiva, um dos grandes destaques nessa época foi Ary Barroso, embora alguns digam que não tinha talento, a não ser como compositor. O que fazia o sucesso dele, flamenguista doente, era não somente a audiência da torcida rubro-negra, que tinha em Ary seu mais fanático representante, como também a das torcidas dos demais clubes cariocas, que se divertiam ao ver a reação do radialista quando seu time ia mal. Ary demonstrava assintosamente sua paixão pelo Flamengo durante as transmissões, tendo abandonado o microfone para tirar satisfações com o juiz, durante a final do campeonato carioca de 52, disputado entre Vasco e Flamengo.

Ary também se destacou como revelador de talentos em seu programa de calouros, onde tocava um gongo japonês interrompendo a apresentação daquele que julgava não ter talento. Isso não aconteceu com Elza Soares, quando foi ao seu programa tentar a sorte. A cantora narrou o episódio durante o programa “Sarau”, que foi ao ar no último dia 12 de junho, pela Globo News. Elza contou que quando ouviu seu nome ser anunciado por Ary Barroso, foi para o auditório, sendo recepcionada pela risada generalizada do público e pela indagação do compositor: “O que você veio fazer o aqui”? Elza usava um vestido de sua mãe todo enrolado até os joelhos e tinha um aspecto visivelmente maltratado, já que nessa época morava na rua. “Vim cantar”, respondeu Elza. A cantora lembra que terminou sua apresentação sendo ovacionada pela plateia e abraçada com Ary Barroso, que sentenciou: “Nasce uma estrela”!

Mas nenhum outro fenômeno teve tão impacto sobre o público como as radionovelas, que tiveram início na década de 40, e revelaram grande artistas como Mário Lago, Dayse Lúcidi, Dalva de Oliveira, Oduvaldo Cozzi, Paulo Gracindo e os integrantes da família Faissal. “Em busca da felicidade” primeira radionaovela que foi ao ar no dia 12 de julho de 1941, permaneceu na programação da Rádio Nacional durante três anos. Contando a história dos protagonistas Alfredo e Alice Medina, interpretados por Rodolfo Mayer e Ísis de Oliveira, o fenômeno de audiência assegurou um modelo que persiste imutável até hoje na televisão, garantindo alguns milhões de reais por ano para a Rede Globo.

Conforme o rádio construía uma audiência sólida, foi despertando interesse da imprensa. A primeira seção jornalística especializada no meio de comunicação foi publicada nas páginas da Gazeta de Notícias, em 19 de abril de 1923, com o título “Radiophonia”. Em 13 de outubro do mesmo ano, editada pela Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, surgiu a primeira publicação dedicada inteiramente ao veículo, a Revista Rádio. Publicada bimestralmente, podia ser adquirida também em Buenos Aires e Montevidéu e tinha como anunciantes empresas produtoras ou revendedoras de equipamentos de rádio.

Mais tarde, outras publicações especializadas se destacaram, como a Revista do Rádio — que circulou de 1949 a 1970, com tiragem média de 50 mil exemplares — e a Radiolândia, lançada em 52 e editada durante dez anos. Em São Paulo, merecem destaque o Guia Azul, que circulou de 1939 a 1948, e a Radar, que teve mais curta duração, de 51 a 53.

Outro grande sucesso da Rádio Nacional nas décadas de 30 e 40 eram os discursos do Presidente Getúlio Vargas, que criou o programa “A voz do Brasil” para divulgar seus feitos durante o governo populista. Getúlio, conhecido na época como “o pai dos pobres”, utilizava o rádio nos anos 30 com uma habilidade política que invejaria Obama nos tempos de campanha online. Fato político que também teve ampla repercussão no rádio brasileiro, foi a transmissão das notícias que vinham dos campos de batalha da Segunda Gurra Mundial e a Guerra Civil Espanhola.

No entanto, a partir dos aos 50, a televisão foi se popularizando no Brasil, atraindo a atenção dos ouvintes, que passaram a ser conhecidos como telespectadores. Fora as imagens, nada de novo. Os programas de sucesso na televisão, nada mais são do que cópias do que acontecia no rádio antes de sua chegada. Novelas, concurso de calouros, festivais de música...

* Artigo publicado no Observatório da Imprensa. Edição nº 553 (01/09/09). http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos.asp?cod=553IPB008

Reproduzido no site Sulrádio — Consultoria em radiodifusão
http://www.sulradio.com.br/destaques/destaque_26283.asp