Domingo de manhã numa festa junina para cães, com direito a desfile de moda canina caipira, dança de quadrilha e até propaganda política.
A reportagem foi publicada no JB (revista Domingo) no dia 20 de junho de 2010, sob o título 'Bom pra cachorro'.
“Bom dia amigos, para quem não me conhece eu sou o Totó, e eu sou bom pra cachorro. Com o oferecimento das coleiras Scalibor, podem começar a vestir seus cãezinhos porque daqui a 10 minutos vai começar”, dizia o mestre de cerimônias do concurso de moda caipira para cães, que lotou o Parcão da Lagoa na manhã do domingo passado. Enquanto isto, as pessoas formavam fila para atirarem bolinhas na boca do palhaço. Três tentativas para acertar e o brinde.
Parece que algumas pessoas trocaram as bolas, dada a quantidade de cães vestidos com motivos da Copa do Mundo. Era uniforme do Brasil para lá, bandeirinhas para cá... De tal forma que não teve jeito, e outra categoria teve que ser criada na hora. “Está bem pessoal, mas o tema Brasil é outro desfile. Agora é moda caipira”, e Totó tentava por ordem no recinto.
Um pouco antes do início da competição, trazendo seu “legítimo vira-lata” Jelly pela coleira, Eliane Dutra comentava: “nunca vi vira-lata ganhar nada. Só vencem os cachorrinhos de madame”, dizia a senhora, que participa há cinco anos do Blocão, também organizado por Totó e que sai em cortejo pela Avenida Atlântica uma semana antes do Carnaval. “Ela (Jelly) já foi de enfermeira, anjo, bailarina, Conde Drácula e Cleópatra, com peruquinha e tudo. Mas na foto só aparecem aqueles cãezinhos pequenos, bonitinhos”, e Eliane, trazendo uma foto de Jelly estampada em sua camiseta, protestava mais uma vez.
Forte concorrente era o poodle Frazão, que já tentava a premiação pelo quarto ano seguido. “Vamos ver se desta vez ele vence. Esta roupinha eu comprei em uma loja de roupas para bebê, não está lindo?”, perguntava Heluska Barroso, enquanto foi interrompida por Eliane, que pedia para tirar foto com Frazão. “Se ele não ganhar ninguém ganha. Primeiro porque ele é poodle, e segundo porque este muito bonito”, Eliane apostava.
Começado o desfile, todos se aglomeraram em torno da passarela. A cada candidato, os aplausos. Na hora do anúncio dos vencedores, algumas propagandas e a premiação. “Com o apoio da Bicho Bacana, Pet Gávea e Patas e Penas, atenção para os campeões”, anunciava Totó. Em primeiro lugar Frazão, seguido por Johnny e seu chapeuzinho de cangaceiro, e Jelly, a vira-lata. Emocionada, Heluska dizia: “são seres que não tem maldade. Estamos aqui num núcleo puro e inocente. É uma renovação de energia. Sempre levo o Frazão nos cãozamentos, festas de hallowen, no Blocão... Até fiz um Orkut (Frazão & Utah) para ele com todas as fotos dos eventos dos quais ele participa”. Algumas horas depois, a foto de Frazão vestido de caipira já estava na página da internet.
Após a premiação, a foto oficial. “Todos os cãezinhos aqui do Parcão reunidos para a nossa grande foto. Lembrando que quem tem que aparecer são os cães e não a gente hein, pessoal”, mais uma vez Totó tentava organizar o alvoroço, emendando a convocação: “quem está com a roupinha do Brasil já pode se preparar, porque aqui a diversão é boa pra cachorro”. Desta vez, outra barbada, dona Sonia Rocha trazia em uma cestinha toda ornamentada seus três cãezinhos vestidos com uniforme do Brasil. Sol, Lua e Estrela levaram o caneco, ou melhor, as cestas básicas caninas.
Após mais uma foto oficial, os presentes começaram a se organizar para a dança de quadrilha, com os donos passando pelo tradicional túnel feito com os braços, carregando seus respectivos cãezinhos no colo, aparentemente entediados.
No meio da festança, um protesto inesperado, até porque o repórter não havia chegado a tempo de presenciar tal cena: “Isto é festa para cachorro. Agora, quando o cara fala em política o povo vai esfriando. Tem que privilegiar o animal e não aproveitar a ocasião para lançar candidato a deputado federal. Não pode misturar as coisas. As propagandas estão certas, pois são as lojas que estão bancando o evento. Só que política já é demais”. Era Gil de Salvador, que, após discorrer longamente sobre o signo do repórter, se definiu como guru espiritual.
Atravessamos o Parcão para ouvir o outro lado. “Sabe o que foi. O Gil ficou puto comigo porque eu meti bronca”, dizia Totó, emendando. “Em época de eleição, aparecem muitos candidatos dando beijinho nos cachorros. São oportunistas, pois sabem que cachorro dá muito voto. Mas neste ano eu não vou permitir que os políticos se aproveitem dos animais. Ralo o ano todo, e os caras vem aqui panfletar. Por isso que eu já estou mostrando logo quem é quem”. E Totó prosseguia, explicando as qualidades de seu candidato. “O Sávio Neves é sério. Ele vai trazer os grandes eventos internacionais de cães para o Brasil. Nos EUA, um evento como este leva 20 mil pessoas a uma arena. E aqui, nós temos o segundo mercado de cães mundial, com cerca de 4 milhões de animais com endereço fixo no estado do Rio de Janeiro. Rola muita grana e o Sávio tem uma visão empresarial e macro sobre isto. Mas temos o lado social também”, e Totó dava o exemplo da renda do churrasquinho no Parcão, vendido a R$ 2, que seria toda revertida para a ONG Cão-Guia, que doa cães anualmente aos cegos.
Já se aproximando da hora do almoço, Totó se despede, dizendo que o próximo evento é o Natal Au-Au, que ocorrerá uma semana antes da inauguração da árvore da natal da Lagoa. Antes de a reportagem deixar o Parcão, porém, outra cena inusitada: uma senhora apareceu com três cachorros perguntando se ainda estavam distribuindo brindes. “Vim lá de Botafogo a pé com os bichinhos, será que eu não mereço ganhar nada?”. Fomos falar com o representante das lojas Pet Gávea, Bicho Bacana e Petas e Penas, que já estava arrumando suas coisas para ir embora. Mas antes, no entanto, mais uma propaganda: “Esta ração aqui que a senhora está levando como prêmio de consolação, é premium. Contém azeite de oliva e anti-oxidante, que retarda o envelhecimento do animal. Também tem um componente que ajuda a reduzir o odor da fezes do cachorro. Ela já está disponível em nossa filial de Botafogo. Acabando esta, não deixe de passar lá”.
sexta-feira, 18 de junho de 2010
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